Tu também és chamado...

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Vocação

Sempre que falamos de vocação, fica no ar uma certa dose de mistério e é frequente as pessoas, de imediato, se colocarem na defesa: “não, isso não é para mim! Eu não tenho vocação!”

E, no entanto, todos nós, cada um de nós, somos chamados; cada um tem a sua vocação.

Vocação não é um destino: ninguém nasceu predestinado. A palavra vocação significa chamado. Deus chama! E chama cada pessoa em particular, chama-a pelo nome, mas sempre para um serviço ao bem comum.

Ninguém é chamado para benefício pessoal, para satisfação de um gosto individual. A vocação se destina sempre a uma causa, à transformação de uma realidade concreta.

Quando Deus chamou Moisés da sarça-ardente, não pretendia fazer dele uma pessoa importante e reconhecida por todos: foi para fazer dele o libertador de um povo que era oprimido, desprovido do seu direito de ser povo. Moisés conhecia bem a realidade do Egito pois tinha vivido lá; ele próprio havia sentido o estigma da opressão. Por isso Deus o escolheu, apesar de suas limitações pessoais (era gago…) para voltar àquela realidade que ele conhecia tão bem e aí ser instrumento da libertação de Deus.

Deus chama a partir duma realidade concreta, duma necessidade, duma urgência que precisa ser transformada. São os pobres, que precisam de esperança; os doentes, que carecem cuidado; as crianças que necessitam carinho; os jovens que precisam sentido para a vida; tanta gente que precisa conhecer Jesus e sentir-se amada por Ele… tantas e tantas realidades que necessitam de ser transformadas; tantas interrogações que precisam respostas; tantas feridas que precisam ser sanadas… tantas situações onde o amor de Deus precisa ser anunciado, manifestado, tornado presente.

Para cada necessidade Deus volta os seus olhos e chama a atenção daquele que quer fazer instrumento de sua ação, do seu amor.

E o olhar sobre a realidade torna-se apelo que toca o coração e se torna semente que germina e cresce, fazendo-se projeto, processo, entrega, serviço… missão

Toda a vocação cristã (laical, matrimonial, religiosa, sacerdotal ou missionária) é sempre uma dupla manifestação do amor de Deus:

  1. amor para com aqueles que estão em situação de carência e por quem Deus nutre uma especial afeição. Como a mãe que se preocupa mais com o filho doente dedicando-lhe mais atenção e carinho, também Deus se preocupa com os seus filhos mais fragilizados.
  2. por outro lado, a vocação manifesta a predileção de Deus por aquele que é chamado e no qual Deus deposita as suas graças para que vá em seu lugar encontrar-se com o irmão necessitado.

Deus chama cada pessoa com amor, apesar das limitações, do pecado, ou mesmo das características negativas da pessoa. E a partir da resposta, do sim, Deus vai moldando a pessoa, adequando-a cada vez mais à missão que lhe vai confiar. Dá-lhe a sua graça e a graça de Deus vai enchendo a pessoa de entusiasmo, de alegria, de disponibilidade, de espírito de entrega. Engraçado: o primeiro sim que Deus espera pode ser decisivo, mas não é definitivo. É um ‘eis-me aqui’, um estou disponível, ‘faça-se em mim’…

E na oração, no abandono, no encontro com o Senhor, aquele que é chamado deixa-se moldar como o barro nas mãos do oleiro. Deus vai tomando conta, moldando aquele barro informe, tornando-o mais harmonioso, capaz, responsável para a missão que lhe quer confiar.

Seja qual for a vocação a que Deus a(o) chama, você será sempre um sinal do amor de Deus.

Sua vocação é ser leigo? Muito bem: precisa ser fermento no meio do mundo transformando com os valores do Evangelho sua profissão, o desporto, o lazer… Em suas relações com as pessoas e com o mundo precisa cheirar a Deus, transpirar o odor de Deus…

É o matrimónio? Que bom! Em sua família Deus se fará presente através de seus gestos, de sua ternura, de sua presença. Deus precisa de você para cuidar daqueles que confiou ao seu cuidado e precisa de sua família para ser um sinal do Seu amor no mundo.

É o sacerdócio? Ôtimo! Cristo precisa de você para se tornar visível no meio do seu povo; precisa de sua boca para comunicar sua palavra; de suas mãos para abençoar; de seus pés para ir ao encontro; de seu coração para acolher e perdoar; precisa de você até para se fazer pão e vinho, para ser alimento, para ser nossa festa…

É a vida religiosa? Excelente! Deus precisa de sua entrega radical como sinal do Reino. Desprender-se de tudo para viver a alegria da experiência de Deus. Renunciar a tudo, até a você mesmo, para ser dom de Deus.

É ser missionário? Fantástico! Será um sinal de Deus na vida daqueles que O não conhecem, daqueles que se sentem marginalizados, oprimidos, espoliados. Sua presença será para eles a certeza de que Deus os ama e os quer felizes, pessoas com dignidade.

Então, toda a vocação é para um serviço, para uma missão. Por isso, a pergunta que precisamos fazer diante do chamado não será porque é que Deus chama mas para que Ele chama.

Aquela senhora de setenta e muitos anos, bateu-me à porta preocupada. Nas vésperas de uma viagem, foi ao médico que lhe diagnosticou uma doença estranha. Uma espécie de tumor que lhe comprimia o fígado. Não poderia viajar: tinha que ir ao Hospital do Câncer. Estava nervosa e só sabia perguntar “Porquê, porquê a mim?...” Procurei ouvir a senhora e tranquilizá-la e, quando pude, pedi-lhe para trocar a pergunta. Talvez mais importante que saber os porquês, fosse conhecer o para quê… Disse-me que ia tentar e, pelo jeito como foi embora, percebi que tinha ajudado muito pouco ou mesmo nada…

Na semana seguinte a senhora veio ter comigo de novo, só para me dizer: “Quando entrei no Hospital e vi aquela gente toda e aquelas crianças, entendi o sentido da sua proposta. O importante não é o porquê mas o PARA QUÊ! E eu vou ser a resposta!”

E você: Para que vive? Para que serve sua vida?

Pe. Vítor, CSh

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