Projecto de vida – Contextos marcados pela violência e pela ausência de perspetiva de futuro

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Projecto de vida – Contextos marcados pela violência e pela ausência de perspetiva de futuro

 

Há uma música do Legião Urbana chamada Baader-Meinhof Blues de 1985 que diz assim: “A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais. E você passa de noite e sempre vê apartamentos acesos. Tudo parece ser tão real. Mas você viu esse filme também.”  Esta música fala sobre a Tv e sobre a influência que exerce sobre a opinião pública e sobre o facto de transformar contextos de violência em espetáculo. Parece que nos acostumamos a viver com este contexto de violência e, de facto, parece que é tão normal. Abrimos os jornais, noticiários, sites, redes sociais… é o prato do dia. Será que isso é mesmo normal? 

Em relação aos adolescentes e jovens, sobretudo aqueles de grupos populares, a violência tem se tornado constante e banalizada quando colocada em discussão, uma vez que têm sido tantos os eventos, que se torna cotidiano e corriqueiro apontar situações de violência envolvendo adolescentes e jovens no Brasil e em todo o mundo. Inúmeros dados têm demonstrado que esses jovens se encontram em situação de maior vulnerabilidade à violência, sendo esta considerada um grave problema para a saúde pública no Brasil e em vários países do mundo constituindo-se na principal causa de morte de adolescentes e jovens (Minayo e Ramos, 2003) .

Na reflexão passada sobre a superficialidade, disse que há uma grande percentagem de jovens que não estudam, não trabalham e nem participam da vida cívica (geração nem-nem). Estes jovens estão marcados por um contexto de violência em suas diversas formas, de discriminação racial, social e étnica, cyberbullying… Que projecto de vida, que perspetiva de futuro se pode pensar dentro deste contexto? Vejamos alguns dados estatísticos. 

Segundo Waiselfisz (2007) , a estrutura de mortalidade é notadamente diferenciada entre os jovens e os não-jovens. Enquanto as causas naturais (doenças) são responsáveis por 27,2% das mortes entre os jovens, no grupo não-jovem representam mais de 90,2% das causas de mortalidade. Já as causas externas, que na população não-jovem respondem por 9,8% dos óbitos, são responsáveis por 72,8% da mortalidade entre os jovens. Essas causas externas englobam acidentes de transporte, homicídios e suicídios, sendo que estes últimos, de forma isolada, são responsáveis por mais de 61,3% das mortes dos nossos jovens.

A violência é, verdadeiramente, uma questão global de saúde pública. Não se pode encarar como algo que faz parte do nosso cotidiano, sobretudo do cotidiano dos jovens. Necessitamos criar uma nova cultura, criando políticas públicas eficientes, ciclo de conferências e rodas de conversas que privilegiem refletir sobre este tema e ajudar os jovens a ver e a suas vidas como dom de Deus para si e para o mundo.

Papa Francisco nos lembre que não podemos nos habituar a estes dramas sendo meros espectadores: “Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, de modo que seja promessa de vida. Choramos ao recordar os jovens que morreram por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma mãe solidária. Esta dor não passa, acompanha-nos, porque não se pode esconder a realidade. A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com outras distrações, com banalidades.” (Christus Vivit, nº 75). E vai mais longe: “Eis a primeira verdade que quero dizer a cada um: «Deus ama-te». Mesmo que já o tenhas ouvido – não importa! –, quero recordar-to: Deus ama-te. Nunca duvides disto na tua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado.”  (Christus Vivit, nº 112).

Pe. Jorge, CSh

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