Projecto de vida – Tempo e acompanhamento

Compartilhamento

Projecto de vida – Tempo e acompanhamento


Continuo a afirmar que o projeto de vida é um convite a tomar a vida nas próprias mãos e a descobrir a grandeza de discernir sobre a própria existência de um modo autónomo e comprometido, e por isso mesmo, pessoal e comunitariamente plenificante. Talvez este seja um dos grandes desafios na elaboração do projecto de vida: discernir de modo autónomo e comprometido. Daria uma boa reflexão falar sobre estes dois valores (autonomia e compromisso), mas ficará para uma outra oportunidade. 
Entretanto, venho falar sobre um dos desafios que mencionei na reflexão anterior: o tempo. E acrescento também o acompanhamento. Não basta dedicar tempo para elaborar um bom projecto de vida. É necessário ter alguém que ajude neste processo de discernimento; um orientador espiritual que ajude a discernir os apelos de Deus. Papa Francisco chama atenção para este facto no nº 112 da encíclica Os jovens, a fé e o discernimento vocacional: “As diversas tradições espirituais concordam no facto de que um bom discernimento requer um regular confronto com um orientador espiritual. Trazer a experiência da própria vivência de uma forma autêntica e pessoal favorece o esclarecimento.  Ao mesmo tempo, o acompanhador assume uma função essencial de confronto externo, tornando-se mediador da presença materna da Igreja.” 
O jovem vive na sua história o momento mais importante: decidir o que deve ser o seu projecto de vida. Um jovem cristão é chamado a fazer esta opção à luz da fé em Cristo quer quanto ao estilo de vida (vivência de valores) quer quanto ao estado ou forma de vida (matromónio, sacerdócio, vida religiosa, missionária, vida laical). A vocação não se restringe ao ser padre ou religiosa. Toda a vida é uma vocação. E se faz necessário um bom discernimento acompanhado e progressivo para a descoberta de sentido.
Hoje vivemos num mundo muito corrido, cheio de solicitações e ofertas. A constituição dos mercados globais, a velocidade das transformações tecnológicas, o pluralismo dos valores e das autoridades, o individualismo institucionalizado e a ampliação dos riscos e das incertezas são algumas das expressões de um novo cenário que torna as nossas vivencias complexa e, por vezes confusa. É neste contexto que os jovens procuram elaborar um projecto para a vida. E este contexto interfere diretamente na produção social dos jovens e na forma como se relacionam com o tempo. Diante desta complexidade, o que fazer? Que caminho seguir? Quais são os valores que orientam a minha vida? São questionamentos que se levantam neste processo de constrição da vida. 
A esta ampliação das incertezas em todos os níveis da vida social se soma uma ampliação do sentimento e da ideia do risco. A crise ambiental, o terrorismo internacional, as crises econômicas, o surgimento de novas epidemias globais, as novas formas de desigualdade social, entre outras, são expressões de uma realidade que coloca em xeque as dimensões da segurança, certeza ou controle tão típicas da sociedade moderna (Beck, 1998). Todos estes riscos globais, humanamente produzidos, levam a uma reelaboração da ideia de futuro. Se antes dominava o futuro aberto, passível de colonização na direção de uma terra prometida, na contemporaneidade o futuro passa a ser indeterminado e indeterminável, governado pelo risco. Quer dizer, o futuro foge do controle, gerando um sentimento difuso de alarme, associado a uma sensação de impotência. O futuro se torna passível de perder o seu sentido como um tempo progressivo, controlável e planificável. Diante de um cenário marcado pelas incertezas e pelos riscos, a busca de sentido é transferida para o presente, num eixo temporal curto que tornaria possível o seu controle.
Diante deste cenário, acredito que a fé seria (e é de facto) uma resposta a pergunta pelo sentido. Mas esta não será uma resposta para todos. Cada um deve procurar no diálogo com Deus o sentido para a sua vida. A primeira resposta pelo sentido da vida é esta: viva a sua vida com tudo que ela contém: alegrias e dissabores, decepções e conquistas… És único (a)! Oriente a sua vida por valores que orientem a sua existência e faça da sua vida algo de bom para si e para os outros. Se dê tempo para esta descoberta. 

Pe. Jorge Benfica, CSh

Veja o ultimos artigos da Comunidade

Acompanhe nossas redes sociais

Siga-nos pelo Facebook

Siga-nos pelo Instagram

Acompanhe nosso canal no Youtube