Um semeador saiu a semear… 

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Um semeador saiu a semear… 

 

Um semeador saiu a semear!
Partiu na direção de um campo aberto 
Caminhou sereno pelo despontar da manhã
Que embalava a sua esperança 
E a liberdade de entregar a um chão
As sementes que não são suas
Mas de um campo que as deseja e pede.

Um semeador saiu a semear!
Leva consigo as sementes que há-de oferecer
A uma terra lavrada e livre
E regressar a casa com o coração em festa
E as mãos cansadas de tanto balançar
As sementes ao vento.

Um semeador saiu a semear!
E parou diante de todos os campos que encontrou
Uns felizes e leves, abertos e à espreita
Do dia da sementeira.
Outros cansados e tristes
Atulhados de ervas soltas e pedras reviradas
Incapazes de lembrar o que seria
Abrirem-se agora a uma oferta de sementes livres.

Um semeador saiu a semear!
E parou diante de um coração ferido
Carregado de temores e de incertezas.
Um coração, há muito tempo despido
Sem estações e sem sementes,
Sem leivas abertas e brotos nascendo 
E sem colheita madura e farta.
Esse semeador atento e feliz
Sorriu para esse e todos os corações,
Esses campos de desalento ou de cansaço
E entregou suas sementes com desapego
Porque há muito desapego nas mãos de quem semeia.
A semente não ficará prisioneira de um celeiro
E um celeiro de sementes não faz de ninguém um semeador.
Desapegado – um semeador corre inteiro
Na direção de um campo e de um coração desalentado.
E esse desapego o entrega a um serviço grandioso
De largar sementes em todos os campos
Mesmo aqueles pejados de espinhos e de pedras reviradas.

Esse semeador atento e feliz
Sorriu para esse e todos os corações,
Esses campos de desalento e de cansaço
E entregou suas sementes com alegria
Porque há muita alegria nas mãos de quem semeia.
A alegria de ver um campo que espera e se abre 
A alegria de poder oferecer as mãos para doar e não para reter
A alegria de ver a semente multiplicar-se por dez ou por cem
Mesmo que nunca veja esse milagre acontecer.

Esse semeador atento e feliz
Sorriu para esse e todos os corações
Esses campos de desalento e de cansaço
E entregou suas sementes com liberdade
Porque há muita liberdade nas mãos de quem semeia.
A liberdade em relação à semente que entrega.
Ela não lhe pertence. Mas a todos os campos, felizes ou não.
Pertence à terra-coração que acolherá a dádiva.
Por isso o semeador e sua liberdade
Não aprisionam a semente
Mas deixam-na livre como o vento
Para que se encontre com a terra fértil
Ou o chão, seco e de pedras reviradas.

Esse semeador atento e feliz
Sorriu para esse e todos os corações
Esses campos de desalento e de cansaço
E entregou suas sementes com esperança.
Porque há muita esperança nas mãos de quem semeia.
A esperança de ver crescer a semente 
Num campo-coração-vida-caminho, e florir
E amadurecer e transformar um campo
Num espaço aberto, num coração largo e cheio de utopias
Até que um outono qualquer
Reclame os frutos maduros e uma colheita.

Recolho das mãos desapegadas desse semeador
As sementes que ele deseja deixar em mim
Para transformar um coração fechado e desatento
Numa janela que se expande 
E num abraço que deseja chegar aos lugares mais sombrios.
Recolho das mãos livres desse semeador
As sementes de liberdade que ele deseja deixar em mim
Para transformar um caminhar penoso e incerto
Em projeto e caminho para uma liberdade maior
Que seja pródiga de sementes e de cuidados.

Recolho das mãos fortes desse semeador
As sementes de esperança que ele deseja deixar em mim
Para transformar um tempo de desespero
Num lugar de acreditar e de confiança
Como bandeiras de um futuro novo.

Recolho das mãos leves desse semeador
As sementes de alegria que ele deseja deixar em mim
Como promessa de um olhar luminoso
Sobre tudo e sobre todos 
E profecia do porvir que se espera e se deseja.

Recolho das mãos abertas desse semeador
As sementes de fé que ele deseja deixar em mim
Para me fazer acreditar na semente e no campo
Na chuva da estação que beneficia a terra
No sol benevolente que cuidará de tudo
E no tempo que não se perde como processo lento
Para que a colheita chegue e a alegria da abundância
Rebente com todos os medos de ser.

Um semeador saiu a semear!
Passou largando sementes na terra e na vida
Nas leivas do mundo e nos lugares escondidos que somos.
Olho para as minhas mãos e para as marcas da sua passagem
E descubro que pequenas sementes de liberdade
De desapego, de esperança, de alegria e de fé
Teimam em explodir por entre espinhos 
E pedras soltas e reviradas.
Mas isso enche o coração de luz e faz com que sonhe
Em seguir o mesmo destino de semear. 
 

Pe. Afonso, CSh

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