Deus e poder
Compartilhamento
Deus e poder
Que Deus a Semana Santa nos revela?
Frequentemente, nossa linguagem em relação a Deus
acentua a dimensão do poder, “Deus todo poderoso”, “Deus omnipotente”.
Entendemos Deus, mais como fonte de poder do que como Amor e Vida.
O poder de Deus é a fecundidade da vida, o poder do amor.
Deus é o Deus fecundo, o Deus Vida, da Vida.
Desde novos, internalizamos o poder e o medo em vez de internalizarmos a Vida,
para sermos fecundos e livres, cheios de Vida. “Deus é amor e no amor não há medo”.
A internalização do poder, em prejuízo da fecundidade do amor,
nos torna vazios, competidores, escravos, opressores, ciumentos, ameaçados, desconfiados,
filhos do medo, medindo nosso valor pela dominação, pelo êxito e pela glória alcançada.
A vida fundada no poder torna-se vaidosa, cheia de incoerências, enganadora.
O ídolo é falso e tem os pés de barro.
Certamente, este Deus todo poderoso é, na maioria das vezes,
uma criação da nossa humanidade derrotada e humilhada,
com desejos de vitória e de domínio.
O poder é um dos elementos estruturantes da nossa vida,
um dos constituintes de nossa personalidade.
Buscamos o poder, porque através do poder temos a sensação de ser.
Para crescermos equilibradamente, precisamos de um justo e equilibrado poder junto de nós,
de alguém que nos ampare, que nos mostre que temos valor,
que nos ajude a gerar a finalidade da vida dentro de nós.
Mas uma das maiores ilusões nossas é pensar
que somos em função do poder que temos ou que os outros nos atribuem.
A pessoa sábia não busca o poder; a pessoa sábia é fonte de vida,
de ternura e tem a inteligência e a dedicação do cuidado.
A busca do poder é uma forma ilusória de obter estima, uma estima ilusória.
As pessoas sábias centram sua vida na fecundidade,
para sintonizar o chamado a assumir a paternidade e a maternidade de Deus,
inscritos no nosso ser, como fecundidade do Deus Vida.
Deus é amor e junto com o amor está a liberdade.
Deus Amor cria na liberdade e para a liberdade.
Ao criar para a liberdade, Deus abandona o poder, para assumir o amor gratuidade pura.
O filho sai de casa, e Deus o vê partir cheio de enganos
e espera a sua volta, pela descoberta do amor.
Deus está sempre unido a nós, embora não o sintamos, pois é amor livre.
O amor e a liberdade dão-nos a possibilidade de ser únicos,
de fazer uma experiência única, na liberdade e no amor de Deus, na comunhão da vida.
Quando amamos nos tornamos livres e, então, perdemos o poder sobre as pessoas.
Amar é libertar e libertar é perder o poder.
O poder de Deus é completamente diferente do poder dos monarcas,
dos ditadores, dos imperialistas, dos destruidores, dos grandes da guerra,
dos donos do dinheiro, da ciência e da tecnologia.
Não é esse poder mesquinho que está entranhado em nós até aos ossos
e nos mata de medo de ser livres?
Deus é amor, é a liberdade, é a fecundidade da vida.
Deus é santo e forte pelo seu amor.
Os poderes, os impérios, os sistemas passam,
mas a santidade de Deus permanece como amor infinito,
como vida infinita, como fecundidade da vida.
Pe. José Luís, CSh