Oração do Ser: assim se faz o pão
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Oração do Ser: assim se faz o pão
Estamos em casa
Um dos desafios que precisamos vencer é o da sensação de inutilidade deste tempo que estamos a viver; talvez nos pareça um tempo vazio e tempo perdido. Com o passar dos dias, esta sensação pode ir aumentando.
Ora, acredito que aqueles e aquelas que participaram dos encontros da oração do ser possam ter uma luzinha para este tempo de quarentena. Começámos contemplando “Eu Sou” (Êx 3,14; Jo 8,28). E exatamente esta afirmação pode significar a experiência fundamental deste tempo que nos desafia a ser. O Ser é o que nos sustenta em todas as ocasiões, quando estamos por baixo ou quando estamos por cima, na privação ou na abundância, somos. No Ser começamos a ser, vamos crescendo na nossa dimensão do ser que permanece. O ser nos sustenta. É o amor, a comunhão de amor, que nos sustenta. Nesta comunhão de amor aprendemos a nos acolher totalmente, a acolher as outras pessoas, a acolher os desafios que o mundo nos apresenta. Renascemos pela simplicidade e pela proximidade: acolhemos o nosso ser real, progredimos no autoconhecimento e permanecemos na relação com Deus e com as pessoas, como somos. Seremos mais capazes de conquistar uma vida digna e feliz se aprendermos a ser aqui e agora, na confiança e na lucidez, para a inteireza.
Ter casa: temos um lugar que nos abriga, para habitar. Estar em casa: estamos nesse lugar, conscientemente, valorizando as dimensões desse lugar, a companhia das pessoas próximas, a família, as crianças, o esposo/a esposa, a proteção e a segurança que significa ter casa, o sentimento de dignidade que a casa me confere, saboreando uma refeição, apreciando a leitura de um livro, cada momento. Ser casa: eu mesmo sou um lugar habitado, sou um lugar de comunhão comigo mesmo, com os outros, com Deus, com a natureza. Eu sou.
Oração do Ser
A “oração do ser” é um caminho de regresso à simplicidade
que compõe a vida e o mistério do ser de cada um de nós.
Não te preocupes com o sucesso ou insucesso da tua oração. Apenas procura estar com Deus, ser em Deus.
Começa por aprender a respirar, respirando, conscientemente, prestando atenção na tua respiração, no ar que entra e sai nas tuas narinas.
Depois, coloca-te na presença de Deus, fazendo um ato de fé, na presença amorosa da Trindade Santa que está contigo.
Em seguida, repete, respirando, a palavra de oração (a palavra sagrada, a palavra do coração), que tu já escolheste ou que te é proposta. Esta palavra é uma palavra significativa, tirada da Palavra de Deus e que te colocará em comunhão com Deus.
Alternando com a palavra de oração, vai deixando passar a tua vida, com tranquilidade, sem censura, os acontecimentos, as vivências, as memórias, as preocupações, os ressentimentos, as alegrias e, voltando sempre de novo à repetição da palavra de oração, misturando o teu ser com o Ser da Palavra de Deus, acolhendo o teu ser e o Ser da Palavra de Deus, o teu ser e o Ser de Deus na tua pessoa, colocando tua mente, teu coração, teu ser no Ser de Deus, através da palavra da oração, que vai sendo respirada repetidamente.
Termina, agradecendo a Deus, Trindade Santa, o tempo de oração.
Assim se faz o pão
Na “Oração do Ser” acontece como no fazer o pão: a gente mistura, mistura, mistura... coloca a farinha e o fermento e a água com o sal, e mistura, vai misturando, depois de misturar fica em repouso e tudo vai agindo, a farinha, a água, o fermento e o sal. A massa fica pronta no final de muito misturar e de muita comunhão. Numa casa que conheço, a mulher que amassava o pão, no final, fazia uma cruz sobre a massa, para dizer que é de Deus. E a massa ficava repousando até que fosse colocada no forno.
Na “Oração do Ser” vamos misturando a nossa vida com a Palavra de Deus e a Palavra de Deus com a nossa vida, colocando nosso ser junto do Ser de Deus, vamos misturando, misturando, o que é nosso com o amor fecundo de Deus e Deus vai tomando conta de nossa vida, do nosso ser, nós vamos crescendo, no fermento do amor de Deus, na ação do Espírito, misturando nossa farinha na água de Deus, o sal de Deus em nossa massa, gerando a comunhão. Nosso ser vai se abrindo à vida, à vida do Ser de Deus, vai se tornando pão generoso, com o sabor do amor repartido de Deus.
Pe. José Luís, CSh