Paisagens Interiores

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Paisagens Interiores

Há paisagens que nunca esquecemos
Porque guardadas para sempre
Na memória do coração.
Elas são lembrança feliz
De encontros, amizades,
Idas e vindas
Por lugares do mundo.

Lembras certamente
De passeios familiares que de repente
Pararam diante de um horizonte 
Com montanhas a perder de vista
Ou num jardim cheio de flores de primavera
Ou mesmo diante de um mar de tons de azul 
Que gostaríamos agora de revisitar.

Há paisagens que nunca esquecemos
Pertencem-nos e abraçam-nos.
Suavizaram em tempos
Tantos medos e alguns desesperos.
Corrigiram tédios
E embalaram a alma 
Com as cores do silêncio.
Há paisagens que nunca esquecemos
Elas estão dentro de nós
E continuam a suavizar 
Os tempos de incerteza e de temor
De pandemia e de isolamento.


Há paisagens que nunca esquecemos
Porque pararam diante de nós
E fizeram-nos contemplar
A leveza e o belo
A cor e o tom do mistério 
Através do espanto e do silêncio.

Hoje estás em casa
Com saudade desses lugares e dessas paisagens.
E desejarias sair e andar
Saborear as cores do mundo
E o sorriso das pessoas.
Mas permaneces e contemplas
As mesmas paisagens que a memória do coração
Te faz recordar.
E descobres que é possível
Suavizar a alma e corrigir 
Os tédios antigos e os de agora
Com as cores que o silêncio
Te pode desenhar e instruir.

Estás em casa… mas não estás só!
Contemplas paisagens antigas e novas
As de fora e as de dentro.
Acolhe e contempla 
Os rostos dos que estão contigo
Porque agora estão quase sempre contigo
Os horários já não são apertados
Os ritmos do quotidiano
Trazem-te esses rostos e essas mãos
Para  dentro de ti.
Contempla e acolhe em silêncio.
Estás em casa… mas não estás só!
Desafia-te a olhar  
Para as paisagens de dentro
Para os lugares interiores que visitas poucas vezes
Quase nunca
Ou simplesmente nunca.

Há paisagens por descobrir dentro de ti.
Lugares de uma casa que és
E que podes abraçar
Para te sentires bem nessa casa
Pouco habitada
Trancada ou mal-iluminada.

Deixa que a luz entre e ilumine essas paisagens interiores
E rebente com o medo de acolher
O que te habita e te pertence.
O que te fere e faz ferir 
Aqueles que agora estão mais perto.

Há paisagens interiores por descobrir
Lugares de luz e de sombra
Pedaços de memórias esquecidas 
Trancadas nos idos da infância
E que podes deixar emergir
Acolher, aceitar, saborear, perdoar.

Estás em casa… mas não estás só!
Aceita a companhia dessas paisagens de dentro
Não as subestimes ou ignores
Elas te sustentarão neste tempo em casa
Na tua casa, dentro de ti.
Aceita e acolhe.
Permite que o silêncio te deslumbre com aquilo que és
Com o horizonte largo e a janela fechada
A planície verde onde gostas de descansar
E a noite sem luar que te amedronta.
Não te esqueças que as noites sem luar
Também carregam os seus mistérios
E apontam para auroras felizes.

Estás em casa… mas não estás só!
Permite-te sair para dentro.
À descoberta dessas paisagens interiores
Precisarás delas! 
Precisarás das suas cores e seus encantos
Das suas sombras e mistérios
Das vidraças quebradas 
E das fontes refrescantes
Que alicerçam a casa onde moras.
Precisarás delas!
Para no final deste tempo
Poderes sair pelo mundo
Abraçando e cuidando
Partilhando e sendo solidário
Redescobrindo sentidos escondidos
Nas coisas e nas pessoas.

Estás em casa… mas não estás só!
Tens um caminho para o interior 
Necessário e libertador.
Rumo ao melhor de ti mesmo
Na trilha da Essência que tem a marca de Deus
A sabedoria da Fonte e a leveza de Ser.
Precisarás de todas as tuas paisagens interiores
Para desenhares na tela da vida
Um olhar luminoso e um caminhar novo
Feito daquilo que verdadeiramente és.

Pe. Afonso, CSh.

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