Transcendência

 

Sempre que assumimos atitudes de saída de nós mesmos para irmos ao encontro dos outros, colocamo-nos em movimento de auto transcendência.
Podemos dizer que a transcendência é um dos aspetos da nossa essência de pessoas, seres de intimidade e comunhão, gerados no convívio com os outros.
Este sair de si (êxtase) na busca de comunhão com o outro pode ter motivações diferentes.
Assim, posso ir ao encontro do outro porque valorizo nele o seu corpo, a sua beleza física.
Posso estar em movimento para o outro, porque valorizo as suas qualidades, a ajuda que o outro me pode dar, as suas habilidades, a sua capacidade de ser uma companhia agradável, de me complementar e enriquecer.
E posso ir ao encontro do outro pela unicidade do seu ser de comunhão, amar o outro porque encontro esse outro no coração de Deus, o outro marcado, com cicatrizes, com dificuldades, mas com uma beleza que ultrapassa o corpo e as qualidades, imagem e semelhança de Deus, pelo seu valor em Deus.
Desta maneira, o outro, meu semelhante, tem sempre um valor que nunca posso negar.
Não paro no seu nível físico, nem no bem que me pode fazer, mas o encontro como alguém que tem valor em si mesmo.
É por isso que o mendigo e o pobre, a pessoa com doença, o outro que não tem beleza física ou que não me ajuda, o outro que não me agrada, merece o meu respeito e solidariedade.
Quanto maior é o reconhecimento do outro que não me pode gratificar com nada, daquele que vive em situação de abandono e fraqueza, maior é a experiência de auto transcendência.
Amar o próximo, repartir os bens com os pobres, estar em oração, fazer jejum, poderão ter o sentido desta auto transcendência Naquele que nos faz centrar e descentrar, porque nos tira de nós e nos faz chegar à comunhão de amor.
É assim que encontramos Deus, que nos encontramos com Deus.

Pe. José Luís, CSh