Cantares do Advento IV

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Cantares do Advento 2020 (IV)

 

I – A morada de Deus

Maria, tu és a Paz onde Deus acampou

e fez da tua juventude a tenda onde morou.

 

Quando o Amor decidiu assumir a nossa História o tempo chegou à plenitude, o Espírito inundou o seio de Maria e o Filho fez-se Homem.

A Humanidade nunca estaria preparada, mas Deus é graça para nós.

Isaías é o cantor da confiança e da esperança na ação salvadora de Deus. João é a voz daquele que vem ao nosso encontro e clama nos nossos desertos “preparai o caminho” e nos leva a um mergulho de transformação. Maria, Tu és bela, porque Deus olhou para Ti e no seu olhar geraste o Senhor da vida. Tu és a morada de Deus.

Contemplamos a Encarnação de Jesus. Enchemo-nos de admiração e de ternura ao ver Jesus formando o seu ser no seio de Maria, o encontro do ser de Deus com o ser da Humanidade, no ventre de Maria. Percebemos a troca de vida entre Maria e Jesus, a troca dos seres de Maria e de Jesus: Jesus faz Maria ser e Maria faz Jesus ser. O “faça-se” de Maria é esta comunhão de ser vida. O sangue, os sentimentos, o afeto, o coração, o corpo de Maria, alimentam Jesus e Jesus se faz; o Ser de Deus, de Jesus, cresce e ocupa todos os espaços de Maria e Maria é em Deus.

Jesus vai tendo os traços do rosto dela e Maria vai tendo os de Jesus. E, quando Jesus nasce e começa a perceber o lado de fora, é acolhido nos braços de Maria e de José. E Jesus vai se fazendo, sendo educado e vai crescendo, até que parte para a missão do Reino, na liberdade do amor do Pai.

Assim Deus vai fazendo a nossa vida, misturando em nós os seres de filho, de mãe, de pai, de discípulo, de apóstolo. É num processo vital que o amor nos faz E se faz em nós.

“Faça-se em Mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38)

“E a Palavra fez-se Homem e habitou entre nós.” (Jo 1,14)

 

II – Itinerância

Passaste a vida correndo estradas e arriscando com o teu povo.

Não podes ser só a mulher do silêncio.

Calamos a tua boca, congelamos os teus pés, fizemos-te quieta e sem comunicação, porque, afinal, temos medo de ser livres.

 

Foi no tempo em que desapareceram as fronteiras entre o divino e o humano, maior itinerância não há, que Jesus, fazendo-se um de nós, tudo tornou humano e divino, o divino tão humano e o humano tão divino. A jovem Maria, pobre e desafiada, caminha no absoluto de Deus, nos caminhos de terra desta vida peregrina.

A itinerância da fé:

As jovens de Israel, assim como o seu povo, esperavam a chegada do Messias que traria a paz e a plenitude à História. E Deus falou-nos na língua que todos entendemos: fez-se um de nós, carne e sangue, sentimentos, vida história, risco, alegria e sofrimento, liberdade, inteligência e ação, Humano. Assim Deus falou que nos ama.

A itinerância dos caminhos:

De Nazaré na Galileia até àquela cidade da Judeia, ao encontro de Isabel, duas mulheres que exultam de alegria; de Nazaré a Belém, recenseamento e nascimento; de Belém ao Egito, perseguição e aflição; do Egito a Nazaré, êxodo, libertação e terra prometida; nas bodas de Caná, o caminho da água para o vinho, o vinho novo da alegria do Reino; Nas peregrinações a Jerusalém, a busca do encontro com Deus; na incompreensão dos caminhos do Filho, no caminho da cruz e na ressurreição, na oração, discípula com os discípulos, no Pentecostes e na Assunção. Por isso, estás nos nossos caminhos, como Mãe que nos cuida em todos os momentos do nosso ser.

A itinerância de ser mãe:

Na escuta da voz e no sim da Anunciação, conceber, gerar, esperar com ansiedade e alegria o nascimento do Filho, cuidar, educar, acompanhar as idades e deixar ir para a realização do projeto de vida, o Reino de Deus.

A itinerância de viver:

A itinerância de ser uma pessoa jovem, idade itinerante, uma jovem mãe, e uma pessoa em processo de ser em todas as idades, até à maturidade, inserida na história desafiadora do seu povo.

“Meu Filho, porque fizeste isto connosco? Olha que teu pai e eu andávamos angustiados, à tua procura.” (Lc 2,48)

 

III – Fazer a História

Faz-nos aprender que as mulheres da nossa Igreja

têm voz e ação, têm pés e coração

e que na juventude está a pureza do futuro.

Faz-nos pisar este chão com entusiasmo

para rebentar o medo de ser,

para fazer nascer a esperança até nas pedras.

 

É grande a procissão dos desalojados e contigo caminhamos e fugimos, enfrentamos desafios e nos enchemos de coragem, as mulheres carregando os seus meninos em ventres redondos e em braços apertados e esperamos na fé e no desapego, na incerteza do vento e no horizonte fechado, no conflito e na alegria, tu estás conosco. Esperamos, como Tu esperas o nascimento do teu menino, esperamos na esperança o abraço da vida e trabalhamos para que se abra o horizonte do horizonte, e que aconteça o encontro prometido.

“Fazei o que Ele vos disser.” (Jo 2,5)

 

IV – Caminhar na fé

Faz-nos aprender, Senhora Itinerante,

que a nossa casa é o mundo e a vida um acampamento

e que a alegria é encanto e aventura.

 

O peregrino perguntou ao caminho:

- Tu continuas a existir se eu não te caminhar?

E o caminho respondeu ao peregrino:

- Sim, eu continuo a ser, mas tu deixarás de ser peregrino.

E assim é a nossa relação com Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Nós perdemos a nossa essência se não caminharmos naquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

- E o que significa perder a essência? Disse o peregrino.

- Escolhe a alegria, a confiança, a raiz do amor, a liberdade que te faz livre, a experiência da verdade que te faz ser, o fundamento da paz, o ser em comunhão com toda a Criação, disse o caminho.

Encarnação, o caminho de Deus nos nossos caminhos, o ser de Deus na nossa vida, Deus vem ao nosso encontro. Assumimos o caminho e vamos também nós ao encontro, Humanidade centrada e espalhada, no Mistério e pelo mundo, “Igreja em saída”, “samaritana”, “hospital de campanha”, como numa jornada mundial de juventudes, de famílias, de crianças, de todos, em caminhos de encontro, comunhão do mundo novo.

Viver é caminhar na fé. E caminhar na fé é uma aventura.

“Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, à pressa, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.” (Lc 1, 39-40)

Pe. José Luís, Csh

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