Cantares do Advento II

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Cantares do Advento 2020 (II)

 

I – Profecia

Como Te encontraremos, se não vieres até nós

E se o nosso coração não se voltar para Ti.

Como te encontraremos, se não estás em nossa História

E se a História não está mãos abertas para Ti.

 

Este mundo globalizado pela economia e pelo poder dos meios de comunicação, “torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (Papa Bento XVI, Caritas in Veritate, 19), e faz crescer em nós o sonho da Fraternidade Universal (Papa Francisco, Fratelli Tutti). Progridem as indústrias da guerra, o tráfico de armas, de seres humanos e de drogas, as guerras políticas e religiosas, os extremismos e terrorismos, e tantas formas de violência. “O grito da terra não corrompe tanta corrupção,” instituída contra o bem comum e a justiça. Existe um mundo organizado de modo a gerar excluídos e a perda dos valores que dignificam a vida. As economias do lucro transformam as pessoas e a natureza em mercadoria e ignoram a finalidade universal dos bens, esgotam os recursos da Terra e concentram riqueza inútil nas mãos de poucos, aumentam o desemprego e as dificuldades de sobrevivência. Cresce a destruição da terra, das matas, dos rios, do ar puro, avançam os campos da fome e o aquecimento global, somos produtores de lixo. A dificuldade de viver valores nesta sociedade competitiva que desfaz a interioridade, esvazia as pessoas e fragiliza as famílias e as relações humanas e, ao mesmo tempo, escancara a exploração da afetividade e da sexualidade. Os sem poder e os desprotegidos são esquecidos e mesmo esmagados nas engrenagens da História. Juntam-se as doenças e tantos tipos de sofrimento, e a incapacidade de enfrentar e vencer tantas situações de morte. Neste mundo massificado e de consumo, de consciência fanática e ingénua, renasce também a consciência de que um mundo novo é possível pela humildade de caminhar juntos na solidariedade. Este vírus fez-nos dar a volta ao mundo para nos ajudar a descobrir que só podemos viver uns com os outros. Equilíbrio ecológico, energias renováveis, economia sustentável, dignidade da terra e do ser humano, a solidariedade é igual a sobrevivência. Precisamos voltar à terra, onde uma grande parte das pessoas nasce e cresce sem ter chão debaixo dos pés. Somos pessoas quebradas, num mundo de relações quebradas, cuidando uns dos outros, como vasos quebrados que precisamos reconstruir, vocação fraterna. Não haverá transformação sem a transformação das pessoas. “Não deixes cair a profecia!” (Dom Hélder Câmara)

“Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração?” (Is 63, 16b-17)

“Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.” (Is 64,8)

 

II – Cuidadores da vida

Acolhemos nossa história, porque Tu vens para nós

Com a tua luz de amor iluminar nosso ser.

O caminho interior nós fazemos na tua luz,

Tu removes as barreiras que impedem ser feliz.

 

Estás no meio de nós naquele que sofre. Estás no meio de nós naquele que serve, no meio de ventiladores e de camas de hospital, Tu estás. Estás no meio de nós naquele que é feliz, cuidando com alegria e sofrimento daquele que morre e daquele que vive. Estás no meio de nós nos trabalhadores da saúde, mãos operosas e coração forte e generoso, nos médicos, nos enfermeiros, no motorista da ambulância, no recepcionista do hospital, no trabalhador da limpeza do chão dos corredores. És a simplicidade da vida que percorre o nosso sangue e desagua em ações de salvação. Só não estás no meio de nós naquele que mata, que divide e que oprime. O teu Reino é de alegria, liberdade, vida e paz. Entre Ti o mal não há reconciliação. O mal não entra em Ti.

“Consolai, consolai o meu povo.” (Is 40,1)

“Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus.” (Is 40, 3)

 

III – Respiramos o amor: a esperança

Caminhamos na tua fonte, na água pura da alegria

O sabor da liberdade tua presença é cada dia.

Fonte de vida, mistério, eu desejo muito a Ti

Tua vida em abundância eu quero viver aqui.

 

À beira do caminho havia uma nascente e eu esperava, esperava ouvir o som do borbulhar da água, mas havia ruído. À beira do caminho havia uma nascente e eu esperava, esperava ver a água cristalina nascer, mas era noite. À beira do caminho havia uma nascente e eu esperava, esperava beber da fonte e saciar a minha sede, mas a nascente ficava apertada entre as rochas. À beira do caminho havia uma nascente e eu não esperei, deitei-me na correnteza e a água me cobriu e senti na pele, bebi, saboreei, escutei e admirei a força da nascente. Ah! Como desejo plenitude!

“O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor. (Is 61, 1-2)

Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus.” (Is 61, 10)

 

IV – A Encarnação: tenho água no meu ser

Fonte de vida, mistério, eu caminho para Ti

Tenho água no meu ser que anseia Te beber.

É na História que encontramos teu amor sempre fiel

É na tua encarnação que temos ressurreição.

 

Olha que silêncio bonito, tão cheio de palavras,

de carinho, de ternura, que está no coração.

Olha que criança bonita, tão cheia de palavras,

é a Palavra da Vida, que nos faz irmãos.

Olha que Palavra bonita, tão cheia de silêncios,

de perguntas e certezas, que está no perdão.

Olha que criança bonita, tão cheia de inteireza,

de beleza, de amor, que está na união.

Olha que criança tenrinha, tão cheia de fofura,

de alegria, tão simples, que desarma o coração.

Olha que menino bonito, tão cheio de lembranças,

é humano e querido como as outras crianças.

Olha que criança tão linda, tão cheia de luz,

é o Filho de Deus, é Cristo Jesus.

“Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias... Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Tes 5, 16-23)

Pe. José Luís, CSh

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