Cantares do Advento 2020
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Cantares do Advento 2020
I – O vírus
Ergue-te na alegria povo chamado à Salvação,
Deixa o traje de luto porque o Senhor é a nossa justiça.
Alegre-se o deserto e rejubile a fonte mais pura,
Consolai o meu povo tende coragem Deus nos conduz.
Podemos cair na miopia de pensar que este vírus é o maior mal do mundo.
E desse modo, ficaríamos com a consciência tranquila quando aparecer uma vacina,
Esquecendo tantos males que têm infectado a existência.
Males escondidos e imperceptíveis, espalhados não sabemos aonde
E males bem estruturados e visíveis, enraizados e organizados.
Males que se hospedam em seres humanos e nas suas instituições
E que destroem a vida.
E não pensemos que a existência se resume à desgraça.
Em cada ser humano há a chama da vida e do amor
E existe muita alegria e bondade espalhadas em braços que trabalham,
Em seres humanos que acreditam, em cabeças que pensam e descobrem caminhos,
Em organizações de paz, de solidariedade, de liberdade,
Em silêncios e gestos de fé que transcendem os males,
Em movimentos de amor.
Consolai o meu povo! Permanecei!
Não desanimeis, peregrinos da utopia e do Mistério.
Deus está connosco.
II – As máscaras
Povos de toda a terra fazei da vida uma refeição,
Preparai o caminho abri as mãos para repartir.
Nesses bairros de fome onde a miséria resseca o homem,
Numa casa sem vida onde ninguém consegue morar.
As máscaras são a proteção dos nossos medos e são muitas as máscaras de hoje e de sempre.
Prepotências, vaidades, fazer de conta, deixar passar, ignorar, alguns todo poderosos...
Rostos sem rosto humano, cínicos, em gargalhadas de disfarce... tantas máscaras.
Olhos fechados, coração de pedra, consciência inconsciente e adormecida.
Os campos de trigo estremecem debaixo dos bombardeios
E as roças dos pobres ardem pelas chamas dos miseráveis;
A floresta inocente é transformada num deserto de ambição.
As casas reduzidas a cinzas e os prédios espalhados no chão, em pó.
A fome fechou as nossas bocas e a tristeza invadiu o coração e não nos deixa dormir.
E a terra é tão abundante e produz bens para todos saborearem em banquete de festa.
E não temos sido capazes de fazer da vida um banquete de fraternidade.
Lavamos as mãos para continuar a viver de mãos sujas.
As máscaras escondem os vírus encardidos no coração.
Mas as máscaras, um dia, vão cair. As máscaras têm que ser tiradas.
Naquele dia em que os nossos medos desaparecerem pela experiência do amor
E o viver face a face seja a nossa forma de celebrar a liberdade do amor.
Vem, Senhor Jesus!
III – O distanciamento social
São malditos aqueles que vendo o pobre o deixam ficar,
Aplanai as veredas endireitai o vosso andar.
Pela força do amor nasceu a esperança nos olhos tristes,
Sê feliz no meu Reino estava nu e tu me vestiste.
Moramos perto, mas vivemos longe.
O distanciamento social não é de agora.
Temos sido incapazes de ser próximos.
Os discursos são muitos, as intenções também, excesso de palavras vazias.
Falta assumir a fragilidade, morrer com quem morre, passar fome com quem passa,
Sofrer com quem sofre, vestir-se de trabalho e servir.
IV – A vacina
O Universo renasce pela partilha em fraternidade,
Desses campos se eleva um forte clamor: solidariedade.
Junto com a alegria sobe a justiça ao entardecer,
A riqueza da terra dá para todos em abundância.
A vacina vem e o mal continua, conviveremos com o mal, dormiremos com ele.
Grande capacidade tem o ser humano para hospedar o bem e o mal.
Vacinamos a consciência para permanecer na mesma?
A riqueza da terra dá para todos em abundância.
Oh, grande transformação!
V – A cura
Partilhai a riqueza, porque Deus de todos é Pai.
Sois benditos, entrai no Reino da luz!
Porque Eu tive fome, e vós destes-me de comer.
Tive sede, e vós destes-me de beber.
Para quando a cura dos nossos males?
Deus de todos é Pai, Pai e Mãe, Mãe e Pai.
Eu tive fome e vós destes-me de comer.
E o grito continua.
Quando a Humanidade será verdadeiramente livre,
De terra, de húmus, simples, humilde, mãe, criativa e feliz,
Amassada na água do amor e no sopro do Espírito?
Deixamo-nos transformar.
E transformamos.
Vem, Senhor Jesus!
Pe. José Luís, Csh