Movimentos do Espírito  

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Movimentos do Espírito  


 
Se estás à procura, podes me chamar, eu também ando a procurar. O Espírito é movimento de vida que nos desafia, e vamos. Entramos no movimento da ação do Espírito de Deus, desde sempre na Criação, na formação do Povo de Deus e na vida dos Profetas, em Maria e na Pessoa de Jesus,  no nascimento da Igreja e na continuidade da História.

 

“Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas,  falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho.” (Hb 1, 1-2) 
 

O Espírito na Criação . “O Espírito de Deus movia-se sobre as águas” (Gn 1,2) . “O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo,  soprou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,7)

O Espírito e os profetas . “Espírito de sabedoria e inteligência, Espírito de conselho e fortaleza” (Is 11,1-9) . “Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus”  (Ez 36,26-28) . “Porei em vós o meu Espírito e vivereis” (Ez 37,1-14) . “Derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura” (Jl 3,1-2)

O Espírito e Maria  . “Alegra-te, cheia de graça!”; “O Espírito Santo virá sobre ti”; “Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,28.35.41) .

O Espírito e Jesus . “O Espírito do Senhor está sobre mim, Ele me consagrou para anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4,16-21)  . “Meu Pai o amará e viremos a ele e faremos nele morada”;  “O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas” (Jo 14,15-26) . “Jesus, soprou sobre os discípulos e disse: recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22-23) . “Ide por todo o mundo e fazei meus discípulos, batizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19)

O Espírito e a Igreja . “Como é que cada um de nós os ouve na nossa língua materna?” (At 2,1-8) . “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32-35) . “No Espírito clamamos: Abbá, Pai!” (Rm 8,14-17; Gl 4,6-7) . “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1Cor 12,4-13) . “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1)  
 

Enquanto a Palavra saía livre de dentro de Deus  e o “Faça-se” criador chamava todas as coisas à existência o Espírito pairava sobre a Criação inteira, e a vida nascia como numa dança  no bailado do Espírito amoroso e sábio. 
 
Vestidos de beleza, os campos se estendiam, os montes subiam, as matas cresciam, o ar, a leveza mais pura, fazia a interioridade e a exterioridade se encontrarem, a água espalhava-se para encher de vida todos os espaços, e o calor do fogo penetrava em todas as partículas e a todas dava o sentir solidário da unidade. 
 
E Deus soprou nas narinas do homem e da mulher e eles tornaram-se seres viventes, imagem e semelhança de Deus.  E o ar é o sopro que, a cada instante, Deus sopra nas nossas narinas. Quando saímos do ventre de nossa mãe, a primeira respiração foi o nosso grito de liberdade, tornamo-nos capazes de acolher a vida que nos era oferecida, na autonomia de nós mesmos. Entramos neste mundo com uma inspiração e sairemos dele com uma expiração. Acolhemos e respondemos e nos entregamos no sopro da vida. 
 
Quando chegou o tempo da nova Criação, Jesus ressuscitado soprou sobre os discípulos o Espírito do Amor que procede do Pai e do Filho, fazendo-nos criaturas de paz, e enviando-nos como portadores do perdão e da reconciliação, ação do Reino. 
 
Respira suave, profunda e conscientemente, e sente o ar entrando e saindo nas tuas narinas. A respiração pode ser o meio mais simples, mais presente e mais fácil de te colocares na presença de Deus. “Tudo o que respira louve o Senhor.” (Sl 150,6)  A cada instante, Deus sopra nas nossas narinas e em nós faz morada o Amor do Pai e do Filho para que sejamos no amor, na alegria, na paz, na paciência, na bondade, na benevolência,  na fé, na mansidão, no domínio de si, no dom de sermos comunidade. (Gl 5,22-23) 

 Não existe o vazio, existe a presença do Espírito do Senhor ressuscitado. É o Espírito que nos leva á intimidade inefável da Palavra Criadora de tudo.  É no Espírito que fazemos a experiência de ser filhos de Deus  e n’Ele e por Ele podemos chamar a Deus “Abba, Pai”, Pai Querido. "Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes  um Espírito de escravos para recair no medo, mas recebestes um Espírito de filhos adotivos,  por meio do qual clamamos: Abba! Pai! " (Rm 8,14-15) Vê como é suave a palavra Espírito. Pronuncia-a nos lábios, na mente e no coração, respira Es-pí-ri-to, sente a sua doçura, e vê como te recria e integra o dentro e o fora de ti, em laços de ternura e em abraços de mãe. 
 
O Espírito é penetrante, é simples, é sábio, é amigo, é subtil, é humilde, é criativo,  é inefável, é belo, é inteligente, é verdadeiro, o Espírito é a bondade.  É o Espirito que faz a humildade ser humilde, e a liberdade ser livre, que faz o amor ser amor, e a alegria ser alegre.  Ao Espírito pertence a iniciativa das coisas novas. O Espírito é demolidor, edificador, transformador, vivificador, é como a água que chega no cantinho mais escondido da consciência, é como o ar, ventania de tempestade ou brisa leve e suave, é como o fogo abrasador capaz de tudo fazer pó, para renascer vida nova. 
 
Se rezamos, é o Espírito que nos leva à oração; se nos unimos, é o Espírito que vence a divisão;  se trabalhamos, é o Espírito que nos move à ação;  se amamos, é o Espírito que nos dá o dom do amor; Se reconhecemos a presença de Jesus no corpo do pobre, é o Espírito que nos leva à conversão; Se doamos a vida em ações de liberdade, é o Espírito que nos faz libertação; Se testemunhamos que Jesus é o Senhor, é o Espírito que nos dá a profecia; Se contestamos a mentira e as opressões, é o Espírito que nos fortalece na dignidade; Se partilhamos os nossos dons, é o Espírito que nos leva a ser “tudo para todos.” (1Cor 9,22) É o Espírito que nos dá o dom de ser Igreja, de ser Povo de Deus, de ser Comunidade, de viver na unidade do coração, “um só coração e uma só alma”, dois ou três ou multidão. É o Espírito que consagra o vinho e o pão, e apaga o pecado e dá o perdão. 
 
Deixa-te conduzir pelo Espírito até às tuas nascentes e verás no teu ser a palavra de Jeremias: “antes que te formasses no ventre de tua mãe, eu já te conhecia” (Jr 1,5). Desde o seio materno, Deus está conosco, nos ama, escolhe e consagra, e envia para a vida. Deixa-te revelar pelo Espírito que mora em ti. Conhece as tendências a viveres de ti mesmo  e também o chamado a te desprenderes na liberdade do Espírito.  Se viveres de ti mesmo, de tuas tendências, fechar-te-ás nas medidas do teu tamanho.   Deixa-te habitar pelo Espírito de Deus e o teu ser se abrirá à plenitude,  em dialética de crescimento, os teus frutos alegrarão a terra e a vida e serás feliz. (Gl 5,16-26) 
 
Caminhamos com o Espírito na pessoa de Jesus:  “No princípio era a Palavra e a Palavra fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14),  maravilha realizada no ser de Maria  “o Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra”,  “conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus” (Lc 1,31-35).  No batismo, “logo que saiu da água, o céu abriu-se, e Jesus viu o Espírito de Deus,  descer como pomba e pousar sobre Ele. E do céu veio uma voz, dizendo:  ‘Este é o meu Filho amado.’” (Mt 3,16-17) 
Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto e no deserto é sustentado pelo Espírito. (Mt 4,1) E, na sinagoga, diante do seu povo, Jesus revela a sua identidade:  “O Espírito de Deus está sobre mim, porque me ungiu, para anunciar a boa nova aos pobres;  enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, o recobrar da vista;  a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor.” (Lc 4,18-19) Por palavras, gestos e ações, cheio do Espírito, Jesus passou a vida realizando o Reino de Deus:  curando os doentes, perdoando os pecados, ressuscitando os mortos, integrando na comunhão os que eram excluídos, dando cidadania aos rejeitados.  “Jesus alegrou-se no Espírito Santo: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos.” (Lc 10,21) 
 
Deixa-te guiar pelo Espírito e entra nesse lugar onde mora a Palavra. Descobrirás a linguagem universal da Humanidade, a linguagem do Espírito do amor,  aí onde a essência humana se encontra e o entendimento é dom de todos: Repartir o pão, dar de beber a quem tem sede, humildade e mansidão, vestir os nus, diálogo, escuta e compreensão, alegria, amizade, liberdade e libertação, perdão, “Como é que cada um de nós os ouve na nossa língua materna?” (At 2,8) 
 
Existem muitas linguagens e nunca existiu uma língua comum de toda a Humanidade. É a riqueza abundante do Amor Criador, distribuída na diversidade de tantos povos e que enche a Humanidade de violinos e de tambores, ritmos, danças e sons melodiosos, dos sons da vida, instrumentos e vozes, palavras, pinturas, arte, fantasia sonhadora. Na diversidade de dons está a diversidade das línguas e das linguagens nascentes da identidade e da comunicação do ser plural e em comunhão. A linguagem da ternura, a linguagem da sabedoria, a linguagem do acolhimento, a linguagem da verdade e da ação libertadora, a linguagem do amor  que sustenta e faz a comunhão de todas as linguagens. 
 
Existe a linguagem da língua materna, que desde o início da vida pronuncia o nosso nome que fomos escutando e deixando inscrever e repousar no centro do nosso ser, nos enchendo de sentido desde os braços da mãe e do pai. Esta é a língua com que Deus nos fala mais próximo e nos toca é a linguagem do coração que nos fala na essência, feita de palavras e de gestos. 
 
Existem as linguagens das línguas do passado, arqueológicas,  línguas que mais ninguém aprende desde o seio da mãe, que sobretudo servem a arqueologia, a antropologia, a história, a linguística.  Fazem parte do que já foi e não mais da nossa experiência de ser, sentir, agir e viver.  Porque o Espírito é Vida na nossa vida, a língua do nosso coração é aquela  em que Deus nos entende melhor e onde se revela e nos fala nos acontecimentos do dia a dia. 
 
Existem as linguagens da tecnologia, das relações comerciais, da diplomacia, das ciências, são linguagens funcionais e utilitárias, linguagens de grupos, necessitadas de sentido ético, para serem meios ao serviço da dignidade da Criação. 
 
Existem as linguagens da natureza, da terra e do universo, das flores, dos vales e dos rios, feitas de simplicidade, beleza e gratuidade e geradoras de admiração e espanto,  nos tocam as raízes, e nos fazem perguntas sobre o sentido de tudo. A Criação é o livro vivo que Deus nos estende para que possamos caminhar no seu amor. 
 
A linguagem do Espírito é a vida de uma pessoa viva que vivifica, liberta e salva, é a vida de um Amor que deu a vida em Amor, 
é a vida inteira de Jesus Cristo: o nascimento, as palavras e as ações, a morte e a ressurreição, é o Reino de Deus realizado, é a intimidade e a comunhão com o Pai é o amor libertador dos pobres e oprimidos, é o amor que perdoa e que restitui a dignidade não reconhecida, é o amor que acolhe as crianças, as mulheres, os mendigos e os refugiados, o amor aos pequeninos, aos doentes, aos que anseiam vida. 
 
A linguagem do Espírito é a linguagem da liberdade, o Espírito é a liberdade livre, a liberdade do amor Criador. Quem aprisionará o Espírito? Ele faz novas todas as coisas, levanta os desanimados, dá alma a quem perdeu a garra de viver, é a liberdade da pessoa habitada pela bondade, com a autonomia dos valores do Reino, a liberdade de dar a vida para que todos tenham vida. 
 
A linguagem do Espírito é o discernimento, a escuta da voz de Deus e da sua vontade, a humildade de se deixar guiar pela inteligência de Deus. Pelo Espírito, Deus vai conquistando a inteligência e as decisões da vontade e os afetos transformam-se em opções de amor e em ações de liberdade, a vida centra-se no essencial, fazendo caminho na Vida de Jesus, o Espírito mostra a verdade dos caminhos e fortalece a coragem nas decisões. 
 
A linguagem do Espírito é a linguagem da totalidade e da inteireza é a linguagem do Mistério que abrange Deus, o ser humano, o universo, o espaço e o tempo. É a linguagem que dá unidade à vida inteira, do nascimento à morte e ao depois da morte. É a linguagem da oração, da amizade da Trindade, do deixar-se construir por Deus. 
 
A linguagem do Espírito é a revelação de Deus na História,  nos acontecimentos da vida do povo, nas derrotas e nas vitórias,  nos esforços de transformação para a liberdade e a libertação, nas palavras sábias do velho desdentado, no sorriso lindo e inocente das crianças, na coragem das mulheres na geração, no cuidado e na proteção da vida,  na esperança sempre viva de dias melhores que habita o coração do povo. 
 
A linguagem do Espírito é a vida da Igreja, a fé dos apóstolos, o martírio dos profetas, o anúncio e o testemunho da vida inteira de Jesus, a vida de comunidade, a partilha, os carismas e o serviço escondido de cada cristão, a esperança do novo céu a da nova terra, a celebração da Eucaristia, a escuta da Palavra, a liberdade da missão. É a vida de fé e dos sinais, os sacramentos da vida de Deus na nossa vida,  o perdão e a reconciliação, o amor repartido com os excluídos, a presença de Deus no nascimento e na morte, na doença e na cura das feridas e dos males.  A linguagem do Espírito é a alegria, a confiança, o amor, a consciência livre,  a experiência da paz, a honestidade, a sinceridade, a verdade, a fidelidade. O que dizer de uma comunidade sem iniciativa, nem criatividade, regida pelo medo? 
 
A linguagem do Espírito é a diversidade da riqueza de dons e a unidade de ser no amor. É a doçura de Deus, a amizade da Trindade, a comunhão da Trindade, É a vida que brota do amor, é o amor que transborda em comunhão. No batismo, mergulhamos na fonte do Amor da Trindade e assumimos, conscientemente, participar neste Movimento de Amor do Espírito Que anima todo o universo, até à consumação da História. 
 

Pe. José Luís, CSh

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