A Espiritualidade que renasce na Pandemia

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A Espiritualidade que renasce na Pandemia

 

O mestre ficou encantado com a lua linda que brilhava na noite... e desejou que o seu discípulo pudesse contemplar a beleza aquele luar  e foi acordar o discípulo no meio da noite.
O discípulo acordou meio sonâmbulo e o mestre o chamou até à varanda. Estendeu  mão apontando para a lua e disse: 
-    Olhe que coisa linda!
E o discípulo olhou, esfregou os olhos e disse:
- É mesmo mestre... como a sua mão é linda!

Religião é a mão que aponta para a lua.
E tantas vezes ficamos olhando a beleza da mão e não enxergamos a lua.
Religião vem de Re - Ligare, ligar de novo, reconectar...
Porque perdemos a ligação com a origem
E a saudade do brilho do luar nos guia na busca 
E a fonte, que tem sede de quem sede
Nos atrai a partir do mais profundo de nós mesmos.
Mas... o perigo de parar na mão e não chegar na lua... é grande.
O perigo de se distrair  com a mão e esquecer da lua... é grande.

Religião é apenas a mão que aponta para a lua
E o apenas, já é muito...
Pois mesmo sendo possível ver a lua sem a mão que aponta para ela
Com a mão apontando deveria ser mais fácil
Pois há noites nubladas
Onde os itinerários ajudam a encontrar a lua 
Que parece escondida a olho nu.

Como dizia Albert Camus:
O pior da peste não é que ela mata os corpos
Mas que desnuda as almas
E esse espetáculo costuma ser horroroso.

E esta peste desnuda os interesses mesquinhos de muitos.

Em tempos de Pandemia
As Igrejas  e os Templos fecharam
-    e algumas teimaram em não fechar
Porque existem em função do Pedágio que cobram 
para as pessoas chegarem a Deus.

Outras se adaptaram e continuaram a transmitir os cultos
A partir do Templo...
Porque o centro continua sendo o Templo, 
O funcionário do Templo, do Poder, da Hierarquia, da Estrutura...
Porque esqueceram que o Templo é o Ser Humano
O Santuário primeiro onde Deus habita
E em vez das Igrejas estarem a serviço das pessoas
Colocam as pessoas girando à volta da estrutura
Que continua sendo o centro.

Perguntou a Samaritana a Jesus
Onde devemos adorar
Porque uns diziam que se devia adorar na montanha 
E outros diziam que se devia adorar no Templo...
E Jesus respondeu que os verdadeiros adoradores
Adoram em espírito e verdade.
Espírito - quer dizer Sopro
Verdade,  no texto original, pode ser traduzido por Consciente
-    Segundo Leloup.
Os verdadeiros adoradores
Adoram com um Sopro Consciente...
Sopro Consciente... Meditação!

Vi muitos funcionários do Templo brigando para abrir os templos
E muitos outros transmitindo os rituais a partir dos templos...
Mas vi pouca gente 
Lembrando que o Templo verdadeiro onde Deus habita primeiro
É o  Santuário do coração de cada Ser Humano
No seu lar
No mais profundo de si mesmo.

Mas... quem sabe...
Não vão as pessoas descobrir que podem ser encontrar com Deus
Sem precisar pagar pedágio ao Templo...
- como iriam ficar os coletores de dízimo para manter as estruturas!?

Inventaram um Deus Delivery
Distribuído a partir da matriz que dele tem o controle da patente
Diretamente para as casas
Empacotado via internet
Com o recibo de cobrança...

Em tempos de Pandemia...
Fica sem sustentação a Espiritualidade de fora para dentro
E de cima para baixo
Baseada nos rituais, a partir do Templo...
Em tempos de Pandemia
Renasce a Espiritualidade a partir de dento
De baixo para cima
A espiritualidade que nasce de uma experiencia pessoal profunda de Deus.
Só ela se sustenta e é capaz de sustentar a vida
Só ela sustenta o horizonte de Sentido.
Uma Espiritualidade que nasce da Experiência de Deus no Humano
E por isso germina de raizes emaranhadas no Autoconhecimento
Como dizia Irineu, um santo cristão do século II:
Como você poderá divinizar-se se ainda nem se tornou humano?
Antes de tudo, garanta a condição de Ser Humano
E, assim, poderá participar da Glória Divina.

Na Tradição Espiritual do Cristianismo
Esta é a Mina de Ouro de Irineu e dos Padres do Deserto,
Evágrio e João Cassiano, João Clímaco e Máximo Confessor,
Guilherme de Saint Thierry e Bernardo de Claraval,
Francisco de Assis, Teresa de Ávila e João da Cruz e Inácio de Loyola
Catarina de Sena e Francisco de Sales
Anselm Grun e Jean Yves Leloup...
Jesus de Nazaré...

A Espiritualidade que nasce da Experiência de Deus
Na luz e nas sombras do Autoconhecimento...
A Espiritualidade que se expressa e realimenta no grupo,
Na experiência de Comunidade...
A Espiritualidade que tem seu selo de garantia de autenticidade
No compromisso com o outro, com o pobre...

Essa Espiritualidade permanece... em tempos de Pandemia
Mesmo quando os Templos fecham
E os rituais e as liturgias calam...
Porque os outros dois pilares permanecem! 
Mas... quando falta o primeiro fundamento
O que vem depois e é chamado de espiritualidade...
Pode nem ser coisa de Deus!

Procure a lua
Para se deixar  encantar e para saborear o brilho do luar...
E aproveite a ajuda das mãos que apontam para a lua.
Mas quando a encontrar 
Não se  distraia com a mão...
Por mais bela que ela seja.

Pe. Domingos Cunha, CSh

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