Conversão ternura

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Conversão ternura

 

O fogo do amor penetrou nos alicerces,
Subiu no interior das paredes
E chegou ao topo da construção.
E ao progredir no interior,
Foi queimando tudo o que não era amor.
E a estrutura da construção foi sendo transformada.

O fogo percorreu as colunas e as vigas, 
As armações de ferro e os poros do concreto
E o que era hipocrisia, arranjo de aparecer, política de poder,
Caiu e desfez-se no chão em pedaços de inutilidade.
E sustentou-se de pé, renascida a construção
Em alicerces e estruturas de amor e serviço. 

Não ficou pedra sobre pedra: vaidade, poder, a máscara,
As defesas estruturadas no medo
Caíram inteiras em pedaços de ilusão.
A verdade foi aparecendo como um edifício pequeno,
De paredes frágeis,
Irrigado de ternura limpa e pura.

Nasceu uma nova construção,
Renascida de um processo de conversão,
Que passou por desestruturação, porta estreita e reestruturação,
Um edifício vivo em processo de morte e ressurreição.
Tempo de vida nós vivemos, de vida nova, pode ser
Para quem quiser renascer pela identidade do amor:
Verdade, liberdade, fidelidade, respeito.

A porta estreita vamos atravessar, entramos,
Levamos tudo, assim como somos,
Deitamos nessa fonte de amor, Jesus Cristo,
Deixamos tudo o que é acessório e efémero,
A porta estreita nos aperta
E só deixa passar os fundamentos da alegria verdadeira:
“Se com Ele morremos, com Ele viveremos” (2Tm 2,11),
“Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também 
Sob o impulso do Espírito” (Gl 5,25).

Que bênção esta, em tempos de pandemia, onde tudo é possível:
Fortalecer os nossos laços de amor
Ou reforçar as nossas rejeições e punições.
O nosso retiro forçado é ocasião de entrarmos em nós,
Nas nossas raízes e no fluxo interior e exterior de nossa vida,
Para purificar as motivações de ser e agir.

O nosso edifício pessoal, defensivamente 
Estruturado sobre a ameaça e o medo,
Desaparecerá em silêncios de confiança, de ternura e de amor.
Na fragilidade do Cristo, vamos
Conhecer e assumir as nossas fragilidades.
Descemos ao interior fundo de nós mesmos,
Caímos em nós,
E aí colocamos o fundamento do amor, amor livre,
Cheio de graça e misericórdia, Amor verdade,
Amor de pessoas em conversão,
Amor sem medo de morrer e viver
Na simplicidade, na humildade, na verdade,
Na proximidade de nós mesmos e da Criação.

Desestruturar ilusões, perder ilusões,
Ilusões do coração, da nossa mente, da nossa ação,
Atravessar a porta estreita na fé, 
Para renascer pessoas água viva. 
O veneno sai de nós, aquele que nos mata dia a dia, na mediocridade
Que nos cansa, desanima e esconde em comportamentos normais.
O amor chega à medula do nosso ser, se nós quisermos.

Assumimos as nossas fragilidades e incertezas,
Na luz do Senhor manso e de humilde coração.
Aprendemos a partir do chão: a verdade de nós mesmos.
Sentimos o nosso ser, sem idealizações e racionalizações.
Penetramos nessa montanha de raciocínios e articulações mentais
Que nos separam da verdade,
Para chegarmos a nós mesmos, às pessoas, a Deus e à Criação.
Deixamos o amor entrar nos processos da nossa mente,
Para que nela corra a água limpa do pensamento
Da liberdade da sociedade nova do Reino de Deus.

Com a sabedoria do acolhimento, do diálogo e da escuta,
Tomamos o nosso coração nas mãos.
Respiramos profunda e suavemente até repousarmos dentro de nós,
Sem medos, na Paz da Verdade.
Vale a pena brincar no fundo do mar.
E sentimos os nossos afetos, sem condenar, deixando passar aquilo que somos.
A nossa sede de alegria não se satisfaz com água suja.
Na água do amor de Deus transformamos os nossos sentimentos
Para renascermos naquele amor que lava os pés, a cabeça, as mãos e o coração,
No amor que ama com o amor com que ama o Amor.

Os apegos a coisas boas e a coisas más,
As mágoas, os ressentimentos, os medos, os sentimentos frios de pedra,
São penetrados e desmanchados pela ternura;
Os desejos de poder, de dominar o outro, 
De fazer do outro uma coisa nossa,
São desmanchados pela ternura; 
E o coração ressuscita na liberdade para os pobres e oprimidos
E os nossos olhos iluminam-se na luz que dá vista aos cegos
E o coração enche-se da saúde do amor:
Perdão, reconciliação e paz.

Percorremos a nossa vida
Revendo as nossas atividades pastorais, os nossos trabalhos profissionais,
Os nossos objetivos pessoais e sociais,
A nossa visão de mundo e a relação com a Terra.
Bebemos o sol, semeamos sementes, corremos atrás do vento,
Em pedagogias de esperança.
Aprendemos a ressaborear a vida
Revestindo-nos de alegria, solidariedade, comunhão, oração,
O sentido de sermos um só no universo da Criação.

Em desestruturação, porta estreita e reestruturação,
Renasce o ser humano, na beleza, na bondade e na verdade,
Na ternura.
É a liberdade do Espírito que entrou nos alicerces do nosso ser
Como água, vento e fogo do amor.

Pe. José Luís, CSh

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