As coisas do caminho de Emaús…

Compartilhamento

As coisas do caminho de Emaús…

 

O Evangelista Lucas
Oferece-nos o relato muito singular
de um caminho entre Jerusalém e Emaús. (Cf Lc 24, 13-35)
Dois discípulos de Jesus e um regresso da cidade
Quem sabe uma fuga ou um medo silenciado
Ou a incapacidade de leitura de um outro caminho
Aquele que também os levou a Jerusalém.

Os dois conversam sobre o que se passou na cidade,
Sobre suas esperanças e expetativas
Sobre seus desejos manifestados ou escondidos.
Conversam sobre a vida e um drama imenso
Que os tocou por dentro e por fora
E lhes deixou uma escuridão na alma.

Caminham na desilusão 
Pela esperança destruída por uma cruz.
São companhia do silêncio 
Que um caminho lhes oferece.
São abraço mútuo das recordações
De um mestre e amigo
Que um túmulo e uma pedra rolada
Obrigam agora a escancarar 
E a partilhar
Nesta fuga para longe.

Um forasteiro se põe à conversa 
Com dois corações e um destino:
Um lugar no campo onde a vida se retoma.
Um Outro ainda sem nome
Deseja saber de dois itinerantes de Emaús
O que partilham, porque fogem, porque duvidam
Porque se afastam de uma cidade e de si mesmos
Porque não compreendem as profecias
Porque não estiveram atentos aos sinais
E a palavras ditas com verdade… esquecidas,
Maltratadas por uma derrota.
Um forasteiro sem nome
Caminha lado a lado… e pergunta.

Um Outro… itinerante com todos os itinerantes
Também deseja saber o que se passa em todos os caminhos
E permanece fazendo perguntas:
O que se passa? Porque duvidas?
Porque estás triste? 
O que te desespera?
Porque foges? Porque estás com medo?
Porque não és capaz também de perceber os sinais?
Porque desistes de caminhar?
Porque te escondes?

Esse forasteiro itinerante
Desvelou aos caminhantes de Emaús
O sentido escondido nas Escrituras
Para que pudessem compreender, a caminho
Que o coração pode arder mesmo com dúvidas.
Pode abrir-se ao mistério 
Mesmo tocado pelo desejo de se esconder.
Pode deixar-se abraçar pela Palavra habitada
Mesmo que o caminhar seja penoso.

Esse forasteiro itinerante de Emaús
Desejou ser companhia silenciosa
De dois amigos na direção do campo
Para lhes revelar o mistério 
De um Jesus-amigo erguido como serpente
Para atrair todos a si e incendiar de luz 
Todos os caminhos e todos os corações.

Quis seguir adiante… esse companheiro misterioso
Mas foi convidado para entrar
E sentar-se a uma mesa de pão.
E repartiu-o como tantas vezes
Que foi reconhecido nesse partilhar
Para então ficar apenas presente
Dentro de dois corações em festa
E em todas as mesas onde se partilha o pão.

O mesmo itinerante de Emaús
Esse Jesus escondido em todos os caminhos
Carrega o mesmo desejo daquele caminho feliz
Quando seguiu adiante:
Ser convidado para uma casa-coração
Habitada por desejos de infinito
Por perguntas e silêncios
E com uma mesa posta 
Onde Ele possa partilhar o convite
Para o repartir do pão… e da vida.


Arrisca-se a não ser convidado este amigo de todos os caminhos.
Arrisca-se a seguir adiante 
Para longe de cada Emaús
Onde deseja pernoitar e iluminar noites
E sentar-se à mesa
E olhar nos olhos do coração
De todos os mendigos de Deus.

Fica connosco Senhor porque se faz noite!
Ele escutou esta prece bendita
E entrou numa casa com dois amigos-discípulos.
E ficou para nós a mesma prece
A repetir em tempos de dúvida
Em lugares de sombra e em caminhos de fuga:
Fica connosco Senhor porque a noite nos atravessa
E sem a tua luz nem sequer vemos
Que o pão que temos em nossas mesas
Pode ser partilhado e distribuído
Como sinal da tua Presença.

Como outrora no caminho de Emaús
No silêncio que nos inspira
Arriscamos uma prece de discípulos:
Fica connosco Senhor para que a noite definitiva não venha
Para que a tentação de seguir adiante, não nos desumanize
Para que a luz mortiça que ainda arde dentro
Não sucumba diante do desespero
Para que essa luz pequenina,
Com a tua Presença e o Teu Pão repartido
Seja alimento de esperança.


Fica connosco Senhor
Neste tempo onde a Luz se esconde
E o pão escasseia.
Permanece em todos os lugares
Onde uma mesa vazia se abre à promessa de fraternidade.
Acalenta com a Tua Presença silenciosa
Os corações feridos
Dos discípulos e daqueles que apenas seguem errantes
No seu caminho de Emaús.

Fica connosco Senhor
E reparte connosco em nossas casas de silêncio 
O mesmo Pão e a mesma luz.
Para que um coração arda e uma porta se escancare
Na direção de Jerusalém ou de outros caminhos
Tocados – neste tempo – por desespero e agonia.
Fica connosco… para que saboreando uma Presença
Reconhecida de tantas maneira e em tantos rostos
Um caminho de Emaús – também o nosso
Ofereça o silêncio das preces
A leveza das mãos estendidas, o calor dos abraços e das fraternidades
E tenha o sabor e a inteireza de um reencontro
Com todos os peregrinos – unidos, abraçados pelo pão
Partilhando as coisas que acontecem no caminho
Em cada caminho de Emaús.

Pe. Afonso, CSh

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