Onde Deus está…

Compartilhamento

Onde Deus está…

 

Um dia, Elias – o profeta
Desiludiu-se com Deus.
Tinha vencido a batalha conta os profetas de Baal
Mas Deus não o protegeu de uma rainha enfurecida
Que lhe desejava a morte.
Elias fugiu, para o deserto
No caminho de Horeb – o monte
Fugiu de si mesmo e de Deus. (cfr. 1Rs, 19)

Elias, o profeta – forte e poderoso
Sufocou diante do cansaço e da fome
Perdeu o alento de caminhar
E desejou morrer.
Sentou-se debaixo de um arbusto e esperou a morte.
“Basta Senhor, tira-me a vida que não sou melhor que os meus pais!”

A morte não veio. Mas Deus e seu anjo,
Marcaram presença nesse momento desolador.
Elias foi acordado e convidado a erguer-se:
“Levanta-te e come!”

Elias obedeceu.
Não sem se lamentar mais uma vez,
Reclamar da sua sorte e do seu infortúnio.
E sucumbir novamente ao desejo de morrer.
Voltando-se a deitar e esperar que a morte o visitasse.

Levanta-te! Elias escuta novamente esse convite
Alimenta-te. Recupera forças. Ergue-te. Caminha.
Ainda tens um longo caminho a percorrer.
Elias obedeceu.
Caminhou por quarenta dias e quarenta noites
Até ao monte de Deus – o Horeb.
Parou-sentou-se-escondeu-se dentro de uma gruta 
E esperou.

Um vento impetuoso passou diante de Elias
Mas Deus não estava no vento.
Um terramoto irrompeu fendendo a montanha
Mas Deus não estava no terramoto.
Um fogo abrasador queimava tudo à sua passagem
Mas Deus também não estava no fogo.
Passou por fim uma brisa suave tocando-lhe o rosto 
Com a suavidade do fim da tarde
E Elias deixou-se tocar pela brisa
Que o despertava para uma Presença
E permaneceu diante dessa brisa 
E dessa Presença.

Elias precisou deixar-se tocar pela brisa e pelo silêncio
Para se descobrir e se aceitar como fugitivo
Habitado por tantas sombras e desejos escondidos.
Elias por fim encontrou-se com o lugar onde Deus está.
Na brisa da tarde que aquieta
No silencio do coração que recupera inteireza
Para ser morada da mesma leveza e da mesma brisa
Que Deus oferece a todos os inquietos.

Na trilha de Elias e seu itinerário interior
Caminhamos em tempos de incerteza
Porventura sufocados pelo mesmo cansaço,
Ou habitados por medos iguais aos de Elias
Que foge de si mesmo e de Deus.

Aprendemos do seu caminho entre o deserto e o Horeb
A caminhar dentro de nós
E aí descobrir uma Presença
Como brisa suave que acalenta a vida
Que desperta e irrompe como  sopro
Para tornar fecundos todos os silêncios.

Aprendemos do caminhar de Elias
Na aridez do deserto e na aridez do silêncio
O nosso lugar neste tempo igualmente árido
Também tocados pelos sintomas
Que tanto afligiram o coração de um profeta.

Aprendemos do caminhar de Elias
E do seu discernimento…
A não fugir da verdadeira jornada e descobrir
O Deus verdadeiro que já está dentro
Desejando fazer-se escutar como brisa
E não como aquele que tudo resolve e tudo fende
Qual um terramoto que obriga
Os elementos a se curvarem diante de si
Ou um fogo que destrói… também inimigos.

Aprendemos com o caminhar de Elias
Entre a aridez do deserto e do silêncio
A permanecer diante de nós mesmos
E de nossos corações atravessados e desolados
Pela incerteza de um tempo que teima em levar
Ao desespero e ao sem sentido.

Aprendemos com o caminhar de Elias
A não perguntar onde está Deus
Em tempos de tanto sofrimento
Mas a descobrir essa presença
Na suavidade de presenças e solicitudes
Como marca daquele que caminha silencioso
Por entre os murmúrios dos corações
E os sonhos maiores de cada um.

Aprendemos com o caminhar de Elias
A não perguntar por Deus fora de nós
E longe dos nossos quotidianos.
Afinal ele esconde-se na suavidade
De tantos movimentos.
Silencia em tantas presenças felizes
Cuida em tantos que cuidam 
E se oferecem sem lamento nos desafios deste tempo.

Aprendemos com o caminhar de Elias
Por entre silêncios e incertezas
Que uma brisa suave e um coração leve
Atento e solicito, amoroso e bom
Continua passando de tantas maneiras
Escondido em tantos nomes e alguns abraços
Misturando-se nos nossos desejos de infinito
Que o silêncio deste tempo
Nos permite também perscrutar.

Aprendemos com o caminhar de Elias
No regresso de um monte – o Horeb
Com olhar fixo no mundo e no deserto
Mas alimentado por uma brisa e uma Presença.
Aprendemos do profeta a desbravar igual movimento
De nos perdermos na direção do outro
E de um tempo que nos autoriza e nos pede
Carregar dentro uma Presença
Como brisa que suavize e toque 
Para que ninguém ouse perguntar
Onde Deus está.

Pe. Afonso, CSh

Veja o ultimos artigos da Comunidade

Acompanhe nossas redes sociais

Siga-nos pelo Facebook

Siga-nos pelo Instagram

Acompanhe nosso canal no Youtube