Espiritualidade de Muleta

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9 - Espiritualidade de Muletas

Baseada numa relação com Deus onde a confiança não foi construída ou ficou minada pelo medo e pela insegurança, esta Espiritualidade busca falsas seguranças, o Plano B e C e D... para compensar a falta de liberdade e de entrega. Busca compensações, bengalas, amuletos, muletas, superstições, devoções particulares, medalhinhas e fitas do Senhor do Bonfim, ou pedras da sorte ou do mau olhado, ou figas... ou reza o Salmo Noventa antes de sair de casa, ou usa o escapulário, ou se benze mecanicamente ao passar na frente da igreja, ou cumpre a devoção e o ritual do jeito que a religião manda... ou faz e usa qualquer outra coisa, que proteja ou dê sorte.  Tudo isso porque Deus não basta, porque não há confiança construída numa relação de amizade. Deus está fora, na norma e na lei, no ritual, no objeto ou no símbolo, na planta de poder ou no gesto que se repete mecanicamente. Há uma busca insaciável por coisas que resolvam a insegurança, atribuindo a objetos ou a práticas um poder mágico. Lembro aquele adolescente que morava num sitio no meio da roça e todos os finais de tarde ia jogar bola com os colegas, lá no meio do mato. Chegava a casa tarde da noite. A mãe reclamava, pedia que chegasse mais cedo... mas não tinha jeito. Um dia, cansada de reclamar em vão, a mãe descobriu a solução milagrosa e disse ao filho rebelde: tudo bem, meu filho. Já cansei de pedir que você volte mais cedo. Não vou falar mais. Só vou te dizer uma coisa: nessa mata que você atravessa quando vem do jogo, de noite, aparece alma. Remédio santo! Nunca mais o rapaz chegou tarde. Antes do sol se por, ele estava em casa... para felicidade da mãe. Mas... o rapaz cresceu e o medo de alma cresceu junto e, já um homem feito, não tinha quem o fizesse sair de casa à noite, com medo de alma. A mãe andava preocupada. Sentia-se culpada por ter colocado aquele medo no rapaz... e buscava um jeito de resolver o problema, claro, sem se desmentir. E um dia inventou o seguinte: Filho... que aparece alma aí nessa mata, de noite, aparece mesmo... mas, se você usar esta medalhinha, não aparece mais alma. É a base da Espiritualidade de Muletas: uma relação baseada no medo... e depois a medalhinha para driblar o mesmo medo, para atenuar. Porque não se confia em Deus, porque Deus foi colocado fora e distante e lhe atribuíram a cara feia de quem castiga como juiz arbitrário, é preciso arrumar bengalas, para atenuar a sensação profunda de estar só, incapaz e inseguro, vivendo uma ansiedade permanente que não deixa ser feliz.

Pe. Domingos Cunha, CSh

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