Espiritualidade Racional

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3 - Espiritualidade Racional

Analisar Deus, querer entender e explicar Deus, teorias e conceitos, esquemas e teses e mais teses. O Deus que é fruto de uma conclusão lógica ou de uma elaboração intelectual sofisticada. Viagens... mentais, virtuais. Ideias bonitas.  Conceitos, teorias, discursos, slogans, documentos, palavras bonitas que fazem nossa mente viajar satisfeita saciando curiosidades mentais. Os textos sagrados são analisados e decantados como se estuda qualquer texto de literatura. Apenas isso... porque nada baixa da cabeça e nada chega ao coração. Uma linguagem para dentro e apenas para meia dúzia de intelectuais que se deleitam em conceitos estéreis. Um discurso que sai da cabeça e apenas chega à cabeça de quem ouve. É a Espiritualidade da escolinha da catequese, da ênfase na formação, no estudo, nos livros e teorias. Curiosidades. A Palavra é objeto de estudo e não de sabor. Dizia Ruben Alves que precisamos trocar os saberes pelos sabores e Inácio de Loyola lembrava que não é o muito saber que sacia, mas sim o muito saborear.  Lembro a confissão de Frei Angelim, esse místico do Nordeste, dizendo que quando alguém lhe fazia perguntas sobre como era Deus e ele começava a explicar... logo parava e dizia para si mesmo: Angelim burro! Lá está você querendo explicar Deus! Deus não se explica! Deus se experimenta! É a tentação que persiste na cultura ocidental... por acreditarmos que o muito saber nos torna superiores e nos aproxima de Deus... triste engano! Acreditamos que o saber nos leva a Deus... mas o saber nos mantém reféns de nós mesmos, e apenas de uma parte de nós mesmos, que é a nossa mente. Lembro a parábola daquele homem que pulou de paraquedas. Esperava pousar no lugar previsto, mas o vento forte daquela tarde o arrastou para a floresta e ele acabou pousando no meio das árvores, em cujos galhos as cordas do paraquedas se enrolaram e deixaram aquele homem suspenso. Ele não sabia onde estava e não conseguia sair dali. Angustiado, via a noite chegar e o desespero bater. Até que, ao anoitecer, avistou ao longe um homem passando. Gritou e o estranho se aproximou. E aquele homem que estava pendurado, perguntou: por favor, por favor, me diga onde eu estou! E o estranho, calmamente, explicou: o senhor está pendurado numa árvore! Decepcionado, o paraquedista respondeu perguntando: o senhor é da Igreja, não é?! Sou – respondeu o estranho! Mas... como o senhor descobriu? Me diga por que o senhor descobriu que eu sou da Igreja! E foi aí que o homem do paraquedas explicou: é muito fácil! O que você diz é verdade... mas não serve para nada! Uma espiritualidade de palavras bonitas, discursos coerentes... mas que não servem para nada, nenhuma diferença fazem na vida das pessoas, nenhuma transformação operam no mundo. Facilmente cai no discurso dogmático e moralista, no cumprimento de normas e na repetição de fórmulas decoradas. Guardo como luz aquela frase de para-choque de caminhão: Religião é para aqueles que têm medo de ir para o Inferno; Espiritualidade é para aqueles que já estiveram lá. Uma religião baseada em práticas rituais e formais, motivadas pelo medo e não pelo amor. Ou uma espiritualidade que nasce de dentro, que desperta na angústia existencial e no vazio de sentido, daqueles que já desceram no fundo do seu poço e lá se confrontaram com suas sombras e a partir daí assumiram como busca pessoal a descoberta do sentido, capaz de manter a nobreza da vida e a dignidade do brilho no olhar.

Pe. Domingos Cunha, CSh

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