Espiritualidade de Adoração

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2 - Espiritualidade de Adoração:

Deus lá no Céu dos altares e eu aqui, distante... extasiado, talvez, e alienado do chão onde piso, sem perceber que Deus mora precisamente aí.  É o caminho do ritualismo, formal e exterior, que lava as mãos e os copos e não olha a sujeira do interior e não enxerga a condição humana ao seu redor. É a espiritualidade que sustenta o clericalismo, as vestes pomposas enfeitadas de renda e os altares barrocos cujo ouro ofusca. Baseia-se nos atos de piedade, gerando uma conduta de devoção, não por escolha, mas por obediência infantil. É uma espiritualidade que se impõe pelo louvor de mãos erguidas e de olhos fechados. Tenho medo do homem cujo Deus está no Céu... porque me faz esquecer a terra onde habito e os irmãos que me estendem a mão. E me ajuda a não olhar para mim, porque isso incomoda e dói.  É um Deus que não me compromete... mas apenas me aliena. Incomoda ter um Deus perto de nós... é mais fácil devolvê-lo para os espaço além das nuvens... e ficar aqui, curtindo a saudade d’Ele ou perdendo-se em louvores que deleitam. É uma Espiritualidade que tantas vezes se perde na beleza dos altares ou no esplendor dos rituais. Lembro da parábola daquele mestre que acordou no meio da noite e ficou encantado com a beleza da lua cheia. Sentiu vontade que seu discípulo também pudesse compartilhar a beleza da lua e foi acordá-lo. E o discípulo, meio dormindo ainda, quando o mestre apontou a mão para lua cheia e o convidou a olhar... disse extasiado: sim, mestre, que mão linda! Como é linda a sua mão! A Religião, os rituais, os altares e os símbolos... são a mão que aponta para a lua... e tantas vezes, tantas pessoas ficam apenas fascinadas pela beleza da mão! Pés no chão... olhos abertos e mãos operosas, podem ajudar a acordar do êxtase de espiritualidades alienantes. O ser humano torna-se mais espiritual, quanto mais se aproxima da sua humanidade, diz Ricardo Peter. Uma Espiritualidade a partir do humano, que dialoga com as paixões e as limitações, com as fraquezas e misérias... e partir daí encontra o caminho para Deus. Não o contrário, não aquela espiritualidade a partir de cima, baseada em imposições e altos ideais, que oprimem e esmagam o humano ou o deixam de fora. E Tereza de Ávila dizia às suas irmãs: Não penseis que havereis de entrar no céu sem primeiro entrar dentro de vós mesmas, a fim de considerar a vossa miséria. Pascal, dizia ainda: Espiritualidade sem autoconhecimento pode tornar-se presunção e autoconhecimento sem espiritualidade pode levar ao desespero. Havia um homem que queria chegar até Deus. Fez uma escada enorme e apontou para o céu e foi subindo, escalando, degrau por degrau... subindo cada vez mais alto em busca de Deus, até que um dia, subindo um degrau, bateu com a cabeça no teto do Céu. Fechou os olhos, respirou fundo e preparou-se para finalmente ver Deus. Mas, quando abriu os olhos, não viu nada... e aí gritou frustrado e desesperado: Deus, onde estás?! E, depois do silêncio, escutou uma voz: Deus mora lá em baixo... faz tempo que Ele mora lá!

Pe. Domingos Cunha, CSh

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